
Olá pessoal amigo de Pajuçara – Maracanaú – Ceará, bom dia.
Hoje eu trouxe uma triste notícia do Jornal Diário do Nordeste, onde se publicou que a Capital Fortaleza ainda não sabe o que fazer com o seu lixo reciclável.
Segundo a matéria são quatro carros de coleta seletiva, o que é insuficiente frente aos quase 2,5 milhões de habitantes da Capital e que apenas um caminhão é responsável pelo transporte do que vai para o recém-inaugurado Centro de Triagem de Sólidos no Bom Sucesso.
Vejamos os detalhes.
Nas ruas, no mar, nas praças e praias, onde quer que esteja, o lixo incomoda. Entulhos expostos deixam o cenário urbano com ar de sujeira e abandono. O problema vai além dos acúmulos visíveis nos cantos da cidade.
Embora a coleta seletiva seja uma promessa antiga da Prefeitura, o processo ainda engatinha na Capital. Numa cidade com cerca 2,5 milhões de habitantes, apenas quatro veículos circulam para coletar material reciclável.
Em 2011, foram recolhidas cerca de 1,1 milhão de toneladas de resíduos em domicílios e pontos de depósito de Fortaleza, conforme a Autarquia de Regulação, Fiscalização e Controle dos Serviços Públicos de Saneamento Ambiental (ACFor). Uma média de 94 mil toneladas por mês enviadas direto para os aterros. Por não haver uma unificação, não se sabe quanto lixo é reciclado na Capital.
"No momento em que tivermos mais equipamentos e veículos, teremos condições de ampliar as ações de coleta seletiva em condomínios. Estamos à procura de empresas parceiras", diz o coordenador de coleta seletiva da ACFor, Humberto Júnior. Ele lembra que, de acordo com a política nacional de resíduos sólidos, as prefeituras não são as únicas responsáveis pelo tratamento do lixo, os grandes geradores também devem se preocupar com o que produzem.
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) aprovou liberação de verba para a compra de mais um veículo para atender a Associação de Catadores do Jangurussu (Ascajan), que, atualmente, conta apenas com um caminhão da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlurb), com a qual mantem parceria.
O engenheiro mecânico da Emlurb, Sérgio Firmeza, reconhece que a falta de transporte configura um dos maiores desafios da coleta seletiva.
Os fortalezenses não têm o hábito de separar a matéria orgânica da inorgânica, o que gera ainda mais desperdício. A maior parte da população não sabe o que fazer com o que descarta. Enquanto a conscientização não bate à porta da maioria, todos sofrem as consequências da poluição. Diversos bairros são afetados pelo descaso e pela falta de responsabilidade ambiental.
É o caso da comunidade que vive em torno do Morro Santiago, na Barra do Ceará. Apesar de receber visitas semanais de caminhões coletores de lixo, o local já se tornou um verdadeiro depósito de resíduos a céu aberto. Na encosta, em frente à praia, não se vê areia ou grama, apenas um monte de detritos. De acordo com o morador Daniel Souto, a culpa é dos próprios habitantes do lugar. "O pessoal joga lixo de novo. O caminhão vem, mas não dá conta de levar tudo. Quando chove, se a água não escoasse em direção à praia, a gente estaria perdido. Os bueiros estão cheios de entulho", afirma.
A mudança de postura, através da educação, dá certo. Foi o que aconteceu com o pessoal do Pirambu. O clima de sustentabilidade da conferência internacional Eco92 chegou até eles por meio de um curso de Educação Ambiental, ministrado dois anos após o evento, em 1994.
"Aprendemos que tudo que a gente jogava fora valia dinheiro", diz Francinete Cabral, fundadora e presidente da Sociedade Comunitária de Reciclagem de Lixo do Pirambu (Socrelp).
Ainda hoje, a iniciativa gera renda para as dez pessoas que trabalham no galpão. Porém, segundo Francinete, as contas estão sempre no limite. "Se quebra uma prensa ou um carro, nós ficamos numa situação complicada", desabafa.
Sem a ajuda do Governo, a entidade conta com o apoio de universidades, organizações não-governamentais (ONGs) e doações de sólidos reaproveitáveis, em especial papel. "O governo? Ele só nos dá o lixo, que é o bem sem dono", completa. Mas nem sempre a consciência cidadã é suficiente. O jornalista Zacharias Bezerra faz a separação de sólidos há anos e ainda encontra dificuldade para se livrar de alguns itens.
"Tenho muitos remédios vencidos. Não sei o que fazer com eles. Já liguei para a Vigilância Sanitária e outros órgãos, mas ninguém quer receber. Me mandaram incinerar. Acho que é prejudicial jogar isso no lixo comum", lamenta.
Enquanto a coleta seletiva não deslancha de vez, interessados em reciclar podem se dirigir a postos de coleta. A Rede de Catadores de Resíduos Sólidos do Ceará conta com representantes em vários bairros da Capital.
Seletores sobrevivem com renda mensal de R$ 140
Apesar do salário baixo, a seletora de materiais recicláveis Maria Luceni Rodrigues, 28, se diverte no galpão. Ela sustenta os três filhos com o salário que recebe pela Associação de Catadores do Jangurussu (Ascajan)
Até os anos 1990, o Jangurussu era conhecido pela enorme rampa de lixo que atraía catadores. O antigo lixão deu lugar a um centro de triagem de sólidos. Os homens e as mulheres, que antes lutavam pela sobrevivência, uniram-se para formar a Associação de Catadores do Jangurussu (Ascajan). Agora eles dividem igualmente todos os lucros da venda de material para reciclagem.
Em turnos de quatro horas, a média de ganhos quinzenais é de R$ 70 por seletor. Valor abaixo do que ganham os trabalhadores avulsos, aqueles que empurram as carroças nas ruas.
"Quando é muito bom mesmo, conseguimos R$110 numa quinzena", afirma o coordenador da Ascajan, Manoel Ferreira.
Desde os 11 anos de idade no ramo, Manoel lamenta que a categoria ainda seja discriminada. "Passei minha mocidade em cima de lixo, hoje, eu não consigo mais emprego em firma nenhuma. Nem aposentar posso", diz. Para o coordenador financeiro da associação, Adalto Barbosa, os ganhos não contam muito para o orçamento, mas contribuem com a natureza e, por isso, o trabalho vale a pena. A educação ambiental do homem que nem terminou o Ensino Fundamental surpreende.
"Nós já temos idade avançada, mas estamos aqui porque temos de cuidar do meio ambiente. Se não nos preocuparmos, quem salvará o planeta? Podemos até não sofrer isso agora, mas nossos filhos vão passar por coisa ruim", argumenta Adalto.
A seletora Maria de Jesus contou que a situação era difícil na época do lixão, mas disse sentir falta do que costumava ganhar.
A companheira de trabalho Maria Iracy discordou. "Sou catadora desde 1973. Antes, eu me via como um bicho. Agora, eu fui reciclada também". Ela relembrou os riscos do antigo espaço. "Aqui, a gente não está exposta ao sol, nem à sujeira, nem a um corte de garrafa ou outra coisa para se contaminar. O dinheiro, ainda é pouco, lá no lixão tira mais. Se Deus quiser, a coleta, agora, vai desabrochar. As pessoas vão ter mais consciência", discursa, esperançosa.
Todo o material que chega no local já vem pré-selecionado de doadores. Logo, não há mau-cheiro e os riscos de se ferir são reduzidos, mesmo que os seletores não usem qualquer tipo de proteção. "A gente já se acostumou sem a luva e quando bota na mão, a gente fica todo sem jeito", diz Manoel.
A Ascajan depende inteiramente do que recebe de parceiros. Quando o número de doadores cai, os ganhos do pessoal também declina. A venda do material é feita para atravessadores a um preço mais baixo, porque a indústria requer uma quantidade que eles não podem prover. Afinal, sobrevivem dos ganhos quinzenais e afirmam não poder esperar um mês
para acumularem mais produto. Há, também, segundo Manoel, perda de 30% do que chega no galpão.
E é nessa busca pela sobrevivência que os seletores beneficiam a todos. "A sobra da sociedade é a sobrevivência do catador", reflete a experiente Iracy.
Só nos resta lamentar não é mesmo pessoal?
Beijão para todos e até amanhã.
Por
Iris de Queiroz
Projetos Sociais
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